No mundo de hoje, tudo que existe pode ser visto por diferentes prismas, responsáveis por apontar diferentes interpretações sobre um mesmo elemento. E é assim que a figura humana gravita entre o que ela realmente é e o que parece ser aos olhos da sociedade. Mas é mesmo viável o equilíbrio entre realidade e representação no mundo simbólico? Seria benéfico ao ser humano deixar que o lado pessoal transceda a mesa imagem neutra?
O que realmente são as pessoas é muitas vezes sucumbido pelas imposições do modelo de "correção e perfeição social". E o medo da rejeição as leva a mudarem de estilo, gosto e aparência para se encaixarem nos simulacros do que é tido como "padrão", o que gera a perda de identidade e o enclausuramento do "eu verdadeiro". Essa discrepância do real e da imagem superficial que "sobe à tona" é claramente evidenciada quando conhecemos melhor as pessoas. É comum descobrir que determinado indivíduo exibido esconde insegurança por trás do exibicionismo. Vigora então o típico pensamento: "que curioso, pensei que tal pessoa fosse diferente". É a quebra do conceito inicialmente formado.
A realidade de cada um, por sua vez, forma-se de acordo com a sociedade dentre a qual somos criado. A própria cultura é responsável por afixar no saber coletivo variadas mentalidades, divergentes na maioria das vezes. Usar vestimentas que deixam as penas à mostra é, por exemplo, para cultura ocidental, simples adaptação ao clima ou forma de demonstrar o "belo". Para os árabes, mulheres que expõem membros inferiores são aptas ao trabalho de prostituição. Analisa-se assim o impacto que a cultura tem na formação do indivíduo quanto ao conceito que este tem da imagem física e palpável.
Outro valor atribuído à imagem é a associação desta com sua função. O próprio elemento negro, graças ao triste passado colonial, é na América ligado à idéia de escravidão, tornando-se símbolo dela. Da mesma forma, a líder Madre Teresa tornou-se símbolo do altruísmo, e celebridades, símbolo do poder e da riqueza. Infelizmente, se analisado da mesma maneira, inferimos que ao deficiente físico sobra do o símbolo do fracasso, uma vez que sua função básica de coordenar os próprios membros lhe foi retirada, o que causa sua exclusão.
O conceito mais sólido a respeito da suspensão entre realidade e representação é que esta é uma relação que sempre irá existir, e é, de certa forma, imprescindível ao alcance do equilíbrio entre o que é e o que parece ser, uma vez que é impossível a descoberta de algum desses lados em sua inteireza. Permitir que a essência transceda a aparência é algo de suma importância, pois uma vida mais espontânea anula a preocupação humana para com as idéias e rótulos que a sociedade impõe.