Cultuavam os gregos antigos uma divindade responsável pela criação do planeta e pelo gelo por sua sustentação: Gaia. Era a mãe das montanhas, das plantas, da vida, do passado, do presente e do futuro. Que resposta nos daria sobre a preferência por um dos filhos do tempo? Impelida pelo instinto materno, diria-nos que todos os três têm relevância indispensável. Podemos ignorar essa proteção da mãe-natureza, porque ela estaria certa.
O passado é o primogênito de Gaia, é a causa fundamental de toda condição presente ou suposição futura. Newton observou que toda ação produz uma reação. Não seriam o presente e o futuro inexistentes sem o ato fundador? Em Cuba, só há socialismo porque houve em outro século Karl Marx. Só há previsão da derrocada desse sistema porque houve a queda do muro de Berlim. O agora e o depois só são possíveis por causa da labuta do irmão mais velho.
Como sempre, o caçula é o mais mimado dentre os filhos, aproveita-se de seu poder de mudança para parecer mais importante. No mundo imediatista em que estamos, o presente é super valorizado. Os homens contemporâneos, movidos pela economia de tempo, buscam no hoje respostas e compensações sem fim. O atual deve ser considerado como tempo de conquistas, essencial ao futuro e renovador do passado, contudo a mãe não pode concentrar sua atenção no choro do caçula, enciumado com um irmão vindouro.
Gaia está grávida. Carrega em si o embrião do futuro, o feto que pode em tudo se transformar, a semente da esperança. Não poderia afirmar se os fins justificam os meios, como Maquiavel, mas sei que todo meio existe por um fim. Cada momento é levado pela espera de situações futuras. O que seria de Fabianos e Vitórias de nosso sertão de pobreza se apenas considerassem a fome que sentem e não os preás que sonham encontrar? O feto é o que garante a vida incessante e a luta por tempos novos e melhores.
A família de Gaia está completa. A mãe-natureza sabe que seus filhos são equivalentes e imprescindíveis para a vida. O primogênito teve o labor intrínseco à construção do presente. O caçula é a chama da mudança do passado e de conquista para o futuro. E a ver está o embrião da esperança, que traz as infindáveis possibilidades por que lutamos. Perguntar à mãe-natureza a quem ela prefere é, no mínimo, coloca-la em uma saia justa.