"O Brasil é a união de três raças tristes", disse Olavo Bilac. No entanto, outras raças foram somadas aumentando a diversidade desta identidade, meio incógnita, brasileira. Há, no entanto, sinais inconfundíveis, os quais, infelizmente, sobreviveram ao tempo das explorações coloniais, marcando o nosso dia-a-dia. Sinais estes espiritualizados na chamada "lei de Gérson", o "jeitinho" brasileiro.
Algumas distinções podem ser notadas entre o estereótipo auferido dos indígenas pré-cabralinos - povo forte e bravio - e o personagem "andradiano - o anti-herói preguiçoso - Macunaíma". Contudo e infelizmente, apenas uma face se mostra recorrente: a indolência ante aos mesmos problemas trajando roupas novas, a apatia que nos transforma em espectadores e inibe a tal braveza, a tal força. Somos quase todos, anti-heróis; trocamos, como os ingênuos indígenas no escambo, nossa riqueza por nada.
"O mestiço" de Cândido Portinari é fruto da união de antípodas, assim como a marcada relação entre "Casa Grande" e "Senzala". O escravo, não raro açoitado, não podia simplesmente se libertar, assim como o "Sinhô" não podia deixar de açoitá-lo. Fez-se, então, o trato paternalista: alimentar um pouco melhor os escravos, ou forçá-los a pensar que estão sendo melhores alimentados; sem insurreições e quiçá a suspensão do chicote. Todavia, tal modelo não foi abandonado no passado: vide Vargas ou até mesmo nosso Lula.
Há também aquele argumento falacioso que sempre ronda o discurso dos evasivos cujo teor (in)consistente outorga a culpa de nosso atual atraso à nossa colonização portuguesa, chamada de aventureira e despreocupada. Como se algum colonizador tivesse fitos senão os de explorar. Ademais, Haiti é o país mais pobre do mundo e foi colonizado pelos franceses. Argumentos como este se não forem evitados continuarão arrastando consigo grilhões quixotescos, embora estes impeçam de verdade algum crescimento de nosso pequeno, que se quer grande, país.
A soma de vários gostos, cores e credos sintetizam a identidade miscigenada brasileira. Com o intuito de conhecê-la melhor, os modernistas "antropofágicos" descobriram maiores diversidades ainda. Tal legado nos mostra que tamanha abundância delineie a identidade brasileira. Um contorno inconfundível, porém, prevalece: é necessário deixar de lado os maus riscos e maus esboços para que construamos nosso Brasil livre de qualquer grilhão.