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Bárbara Ilário da Silva
Criar Bebedouro

Gray, Shrek ou Nietzsche?

"Atenção para o ditado: ossos, e não gorduras, à mostra, rostos "plastificados" (aquele charme enigmático), e o mais importante é que você esteja feliz comprando aqui o padrão que lhe aprouver (caso se depare com alguém igual, sorria, você ao menos não estará feliz sozinho). "A necessidade criadora e os padrões criaturas dos tempos modernos são, naturalmente, dissonantes das dos gregos pais de Vênus. O que não destoa, porém, é sua intenção de supervalorizar uma característica da qual alcançá-la, trabalho talvez hercúleo, torna-se uma glória.

Dorian Gray era benquisto, invejado, tamanha era sua beleza. Tais adjetivos certamente são objetos de busca pela grande maioria que não pôde, naturalmente, ser agraciada com tais atributos e para que possam não mais ser alvo de coerção social, como teorizado por Durkheim, vão tentar "se inserir", serem aceitos na "bela sociedade". Para isso, atualmente, mulheres deixam de comer, tomam remédios à revelia, e homens se inflam de anabolizantes. O fim para tais atitudes não refletirá, evidentemente, a beleza do personagem wildeano, mas o de seu trágico fim.

Shrek é outro personagem que por manter sua individualidade e sua "feiura" e não se sentir mal por isso que tornou-se padrão. Não se submeter a padrões mortíferos como os que não à la Dorian Gray, pode ser uma ótima opção para quem quiser, de certa forma, submeter-se à felicidade da sua natural diversidade. Assim, ao menos, não há aniquilação e a única subordinação possível é à vida.

Consoante dissera Nietszche: "Tudo que tem preço não tem valor", podemos pensar que a vida e as suas diversas feições belas ou não, não podem ser rotuladas e vendidas. E, portanto, o único padrão a ser cultuado é o de que beleza é diversa e está nos olhos de cada diferente rosto.