Sentado com o papel e o lápis na mão, ao lidar com o tema a ser tratado, a preocupação principal é causar alguma surpresa ao leitor. Mais preocupante que o conteúdo a ser discutido é a impressão que este passará em a imagem que ele trará sobre os valores desenvolvidos. A representação e as molduras de imagens sobre as situações são praticadas a cada instante. No entanto, cabe aqui uma preocupação pertinente a ser desenvolvida. Até que ponto tais representações são salutares pessoalmente e socialmente? Quais são os valores bons a serem representados e quais são os ruins? Em que lugar se estabelece a espontaneidade?

A realidade da vida diária confronta-se com a representação dela e isso gera fatores bem-vindos e fatores preocupantes no campo pessoal. Enquanto ocorre essa extrema valorização das impressões que as atitudes e situações transmitem, ocorre também a repressão de instintos. Esta repressão pode gerar intensos desgastes pessoais uma vez que reprime vontades, no entanto é colaboradora da manutenção da civilização. A roupa é escolhida rigorosamente; o tema a ser conversado na mesa do bar é imperceptivelmente selecionado de maneira mais apropriada. As imagens pessoais são criados e manipulados a cada instante com a cautela de não romper com o aceito, ao contrário, surpreender de acordo com o que se admira.

Desconsiderando repressões e incômodos pessoais, outra discussão pertinente diz respeito à sociedade com um todo. Nesse jogo de imagens e impressões que sobrepõem a realidade, reparar em quais são os valores admirados e o porque disso é de bastante relevância. A sociedade e seus respectivos meios sociais estabelecem a que admirar e o que reprimir. Ao mesmo tempo que se tem uma cartilha imposta indiretamente sobre o politicamente correto, tem-se também olhares de soslaio sobre os tipos sociais considerados não-normais. Ou seja, simultaneamente ao "bom dia" para honrar com a simpatia vem o pensamento carregado de preconceitos e pré-julgamentos.

Em meio a essa esculturação do comportamento humano, em que são moldadas e estruturadas as formas aprovadas a serem vistas ocorre o comprometimento da espontaneidade. Dificilmente se conhece a essência dos seres. A preocupação com a aparência de todas as situações vividas caracteriza uma sociedade em que a maioria das pessoas são artificiais. Se por um lado consegue-se manter um certo grau de civilização, por outro deixa-se de conhecer as verdadeiras atitudes tomadas em diversas situações.

Ao concluir este texto, uma preocupação inevitável paira sobre a minha mente: a cada período escrito um pensamento sobre o que o leitor concluirá em relações a meu excerto. E assim a mente humana adapta a pensar a cada instante na imagem que será transmitida, o que reprime certas espontaneidades. Conceitos de certo e errado, aceito e discriminado, dão uma forma a meu texto talvez diferente daquela que gostaria de discutir. O desapego às formas e imagens diversas poderia resultar em uma sociedade mais compreensiva. Porém, deixando as utopias à parte, resta-me a esperança de que tal texto surpreenda o leitor.