MELHORES REDAÇÕES DE ALUNOS

Maria Beatriz Lacerda Coelho de Paula - Criar São Carlos
Criar - Melhores Redações Fuvest 2010

A estrela e a poeira

A construção de imagens sobre pessoas teve seu início na remota arte rupestre. Com poucos traços, o artesão das cavernas representava-se, demonstrando que, naquela época, a representação da figura humana tinha objetivos divergentes dos atuais.

Na civilização de hoje vê-se constituído o império dos "sites" de relacionamento. Orkut, Facebook trazem dentro de si álbuns de fotos, nos quais são divulgadas imagens, muitas vezes alteradas por programas como o "Photoshop". Os usuários desses "sites" preocupam-se com a aparência que apresentarão em cada uma de suas imagens e tomam como referências de perfeição ícones criados pela mídia, tais como estrelas da música e do cinema.

No entanto, a construção de imagens sobre pessoas não se restringe ao âmbito da aparência física. A preocupação com a beleza acompanha sim o ser humano há séculos: Cleópatra ordenou que fossem destruídas todas as representações de Nefertite por esta ser mais bela que aquela. Mas Cleópatra não foi obedecida por ser bela ou não; foi obedecida por ter poder, por gerar na mente de seus súditos uma imagem de onipotência.

É sabido pela nação brasileira que a escolha do "marqueteiro" é um ponto chave para a eleição de um candidato. Esse profissional é símbolo da transformação do "real imediato" em figura de admiração e aclamação populares. Tendo como base os valores mais apreciados pelos eleitores, as características morais e físicas às quais o candidato deve corresponder, o gênio do "marketing" esculpe o material e, muitas vezes, até pinta-o para obter o resultado que levará a campanha ao sucesso. Lembrando que, como disse Machado de Assis, a tinta não se apega ao lado de dentro.

Portanto, qual seria o futuro da criação de imagens para pessoas? Qual seria o motivo para que se deposite poder em uma imagem? Certa vez, Gilbert Durand disse que "A imaginação simbólica é sempre um fator de equilíbrio. O símbolo é concebido como uma síntese equilibrada, por meio da qual a alma do indivíduo oferece soluções apaziguadoras aos problemas"; as referidas soluções apaziguam a realidade do flagelo humano - a impotência e a vulnerabilidade perante a natureza, a morte e os outros humanos - e a capacidade ilimitada pelo homem idealizada.

Assim, fica evidente o motivo de veneração de estrelas do cinema, da música, da política: suas imagens nos concebem a efêmera sensação de que a raça humana não é apenas poeira cósmica.