SENHORES DA VIDA. ESCRAVOS DA MORTE

                Assunto espinhoso, controverso, delicado…No imaginário de diversas pessoas, o tema trás em si ideias que aliviam, que ofendem, que instigam. Show de horror, possível catarse!!!É a definição legal, em alguns países, da metáfora “olho por olho, dente por dente”. A pena de morte. Um de seus riscos, quando na encarada facial mortal, é o bater cabeças e todos perderem o norte. Assim, a questão que se desvenda, ironicamente, por meio do anseio pela colocação da venda aterrorizante, é o ímpeto humano pelo domínio. Ímpeto que, não raro, se torna exacerbado. A síndrome do pequeno domínio. E o que se torna pequena, no caso, é a vida!!!

                O Rappa, na letra da música “Hey Joe”, diz que “também morre quem atira”. Morremos todos, então, a cada hora, vítimas dos mesmos argumentos usados na defesa para a instalação da pena capital no país. Ou seja, a cada sessenta minutos, derradeiros nas vidas dos que se tornarão estatística desatualizada, alguém algoz pulveriza na consciência o direito à vida, por argumentar que suas presas são os agentes, diretos ou não, de seu caos. Mais precisamente, segundo dados oficiais, ocorrem seis homicídios por hora nesse país, abençoado por Deus, mas assediado pelo outro. Ainda assim, em nossos cultos dominicais, motivados pelo medo de nossos pecados, bradamos, ritmados, nosso desejo de que levemos amor aonde houver ódio e perdão onde houver ofensa. Porém, claro, a validade desse brado aparenta depender do quanto de domínio temos que abrir mão. Quanto abriram mão de domínio os brasileiros que purgaram, na dor, muito de seus egos? Brasileiros como o senhor Masataka Ota, que teve seu filho assassinado barbaramente, no ano de 1997, mas, mesmo assim, não levantou qualquer bandeira de vingança e domínio sobre as vidas dos que mortalmente agrediram quem, incondicionalmente, amava. Até porque, cabe nesse assunto, uma questão muito mais simples: quem está disposto a oferecer suas mentes e suas mãos para execução do sacrifício humano? Quem está convencido de que não há, em qualquer cenário ou condição, diferentes meios para se cumprir real e produtiva justiça? Talvez, em função de nossas ambições por dominar, o que é justo tenha uma definição mais conveniente para nós, que sacie nossas distorções sobre direitos e soberania. Sem remeter à fundamentos religiosos, porém, levantando noções factuais, ainda que de senso comum, o que irá diferenciar a situação de quem matou por erro e de quem matou pela lei? Estaria Maquiavel correto sobre a relação fins/meios?

                “Hoje à noite nós dizemos ao mundo que não há segunda chance aos olhos da Justiça. Hoje à noite nós dizemos às nossas crianças que, em alguns casos, matar é correto. Nesta noite, ninguém vence. Ninguém sai daqui vitorioso”. Essas foram as últimas, palavras de Napoleon Beazley, executado em 2002 no Texas. Ao autorizar a injeção letal ou qualquer outro meio de se dar fim à vida, a sociedade legitima o próximo tiro, não importando de onde parta e nem aonde chegue. Afinal, soa redentora a expressão “sangue nos olhos”.

 segunda-feira, 26 de janeiro de 2015